sábado, 7 de novembro de 2015

ALGODÃO



As moças de Jaguaribe, ele conhecia todas. Ganhava na voz e no violão.
Semana Santa de maré boa, aguardava na praia a rede cheia de João Valentão.
No Abaeté, a lavadeira fingia que não o via pelado com a batida na mão.
Em noite de lua cheia, dormia tarde esperando a sereia tocar seu coração.
Plácido como as nuvens de céu azul e as ondas verdes do mar, Caymmi é só canção.
Já o chamaram de Buda Nagô, Galã Rústico, o Colombo dos Balangandãs.
Mas a imagem dele que me encanta
É sua cabeça alva, de um alegre ancião.
Por isso mesmo, achei lindo quando lhe deram outro nome, simples assim, Algodão
A bênção, Caymmi. Mais 100 anos virão.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

CONTRALUZ



A contraluz,
Os livros iluminam as retinas,
O dia se mostra em negrito,
A letra abre os lábios na leitura,
E o pó em suspensão, quase num rito,
Só pousa com meu dedo em cima
Da palavra "cura".

 Foto: Angelo Rosário

terça-feira, 6 de outubro de 2015

COLOFÃO_Poema de um escritor pré-escrito


 O escritor precisa de solidão e solidariedade.

Ausências e presenças. 

Dengo e danação. 

Nada sai, nada rola, nada fecha, se o que lhe resta de companhia, não lhe dá Bom dia, ou que lhe faça uma festa. 

Suado, despenteado, barbudo, faminto... bicho carnívoro correndo atrás do cursor.

Cadeira que range, seca de suportar seu peso, aceita a má-sorte, essa sina...
E ensina à mesa de vidro a mostrar as unhas grandes de corte. 

O prazo do editor o abate, o cansaço bate e volta, esse é seu degredo,
mas o desejo de lamber a cria pronta lhe apronta um fim e toda a trama desse livro de segredos.