terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Rota do Açúcar - Pernambuco - Última Jornada


Engenho Massangana - Vista Geral


Engenho Massangana - Capela de São Mateus


Engenho Massangana - Casa-Grande



Pé na estrada para a última jornada da Rota do Açúcar.

Em janeiro de 2011, programei viajar para Alagoas, Pernambuco e Paraíba, a fim de fazer os engenhos desses três estados, mas refiz o roteiro e só visitei as cidades dos dois primeiros Estados.

As cidades da Paraíba, onde estão localizados os engenhos, ficam numa região mais afastada dos engenhos de Pernambuco, por isso decidi naquela época só visitar João Pessoa para reencontrar amigos.

Só voltaria à Paraíba em 2012 para conhecer os engenhos de Sapé, Areia, Pilar e Alagoa Grande. E assim o fiz, desta vez acompanhado de Márcio, como co-piloto.

Saímos dia 27, com parada em Maceió por uma noite. Na tarde seguinte, seguimos para Recife, onde ficamos por dois dias, mas antes de chegarmos à cidade, passamos pelo Engenho Massangana, onde Joaquim Nabuco morou parte de sua infância.

Foi uma visita não-programada, porque minha intenção era só os engenhos da Paraíba. Ano passado, o Massangana estava na lista, mas como estava fechado para reforma, decidi não explorá-lo no documentário, pois decidi só filmar aqueles que eu visitasse ou que poderia visitar durante a pré-produção.

Para a confecção do roteiro, eu preciso ver o engenho. Em se tratando de um filme "on the road", é possível que outros engenhos não-listados entrem no projeto, decorrentes mesmos de indicações ou sugestões de pessoas dessas comunidades ou de pesquisadores.

Fomos recebidos no Engenho Massangana pelo responsável ao atendimento de visitantes, o muito educado e bem-informado Alexandre Souza, morador da comunidade ao lado do engenho, e próximo ao Porto de Suape, o maior complexo portuário do Estado e do Nordeste, na cidade de Cabo de Santo Agostinho.

O complexo arquitetônico do engenho é composto de casa-grande e capela, como as construções mais antigas da área. Não há vestígios da moita e da senzala, nem do cemitério que Joaquim Nabuco cita em seu livro de memórias "Minha Formação".

Visitamos todos os cômodos da casa-grande, que comparados aos outros visitados em Pernambuco ano passado parece ser menos portentoso, mas que segue um padrão estrutural dessas habitações da Zona da Mata pernambucana norte ou sul.

A riqueza do senhor de engenho e família poderia ser vislumbrada boa parte no interior delas, com suas louças importadas ou móveis de madeiras nobres. No Massangana, somente uma mesa de ferro foi preservada. O restante dos móveis foi de doações de colecionadores ou comprados pela Fundação Joaquim Nabuco, do Governo Federal, para reconstituir a ambiência senhorial.

Cenas do filme "Menino de Engenho" (1965), de Walter Lima Jr., baseado na obra homônima de José Lins do Rego, foram gravadas no Massangana, e a moenda que compunha o cenário do filme "Abril Despedaçado", foi doada por Walter Salles ao museu.

Foram 40 minutos imersos na memória visual de Joaquim Nabuco sobre o engenho, materializada em seus escritos e reproduzidos em painéis e banneres nas partes do engenho ainda possível de identificar, como a capela, o quarto onde dormia, a cozinha.

Joaquim Nabuco foi um dos maiores pensadores sociais e críticos contra a escravidão no Brasil. Palmilhou com sua verve entre o ensaio e a prosa literária um ideal de liberdade que, mesmo depois de ter sido alcançada pelos escravos, ainda assim não correspondeu à seu anseio de ver os negros sem as amarras do preconceito e da exclusão social.

É emblemático o texto "A Escravidão", escrito em 1870, aos 21 anos, quando era estudante de Direito em Recife. Não tão conhecido quanto "O Abolicionismo" e "Minha Formação", talvez porque não foi publicado em vida, este ensaio foi concebido para ter três partes: "O Crime", A História do Crime" e a "Reparação do Crime". Somente as duas primeiras foram concluídas. A terceira nem chegou a ser iniciada.

Mais de um século depois, estamos discutindo algo tão óbvio o que Nabuco almejava com uma antecipação e segurança ideológica ímpar: a reparação pelo crime da escravidão que massacrou africanos e afro-brasileiros, e que ainda paira no cotidiano e no privado de nossas relações sociais atuais.