sábado, 10 de maio de 2008

A voz de Fabiana Cozza - Parte I

Fabiana Cozza, após evento lítero-musical em São Paulo.
Olha minha cara de novo fã!


Muitos intérpretes brasileiros deleitam meus ouvidos com suas vozes. Dão voz à voz de meus pensamentos. Neste elenco, as mulheres reinam absolutas.

Variados são os tons, os estilos e as perfomances dessas cantoras, a quem aplaudo de pé e entusiasticamente. Cássia Eller, Maria Bethânia, Ana Carolina, Jussara Silveira, Vanessa da Mata, Nana Caymmi, Rosa Passos, Quarteto em Cy, Clara Nunes, Elza Soares, Simone, Gal Costa, Olívia Hime...

A lista é extensa e a todo instante cresce tão logo eu seja fisgado por uma voz desconhecida, ou até já conhecida, mas ainda não ouvida com sensibilidade devida.Basta uma confluência de forças positivas, o acaso se assim quiserem, para que o encontro seja impactante a meus sentidos.

É assim que explico o que aconteceu quando, ano passado, numa noite de sábado paulistana (depois de uma tarde agitada e, por conta disto, um pouco cansativa) fui a um evento lítero-musical, convidado por meu amigo Suênio Campos.

Marcelino Freire leria trechos de seu livro "Contos negreiros" e Fabiana Cozza interpretaria entre, uma leitura e outra, músicas com temática afro-brasileira. Embora o palco do auditório fosse pequeno, ele não apequenou a voz possante de Fabiana. Fiquei impactado. E encantado. E irritado comigo mesmo por não tê-la conhecido antes. Onde tinha metido esses ouvidos?

Fabiana Cozza é paulistana, filha de um negro com uma descendente de italianos. Negra-mestiça, afro-ítalo-brasileira. Essa presença negra está na perfomance da cantora. Voz, postura de cena e repertório. E olha que eu ainda não tinha ouvido seu cd de estréia, "O Samba é Meu Dom" (2004), e o que ela acabara de gravar, "Quando o Céu Clarear" (2007). O título de seu primeiro trabalho já nos mostra, sem blackface, o que eu disse anteriormente sobre sua identidade negra. O dom de sambar de Fabiana Cozza pode ser aqui entendido por duas vias de sentido. Fabiana recebeu de orixás, inquices e vodus essa musicalidade africana, como se fosse uma graça, uma dádiva dos deuses. Fabiana recebeu de seu pai, sambista, essa herança cultural, como se fosse a continuação de uma linhagem ancestral. Fabiana não poderia deixar de ser o que é: talentosa em cantar sambas.

Por todo cd, a cantora desfila leve e segura, como estivesse numa passarela ou roda de samba. A começar por O samba é meu dom (Walter das Neves e Paulo César Pinheiro), uma homenagem aos grandes mestres do samba (Mario Reis, Jamelão, Sinhô e Donga, por exemplo) no melhor estilo partido-alto, passando por Lavandêra (Rui Morais e Silva), com arranjos de samba-de-roda, Luzes (Josias Damasceno e Mário Mamana) e Verniz (Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro), ambas com forte acento samba-canção, chegando a Acima de tudo mulher (Washington), samba-enredo da Camisa Verde e Branco de 1979, que Fabiana canta com seu pai, Oswaldo dos Santos, ex-puxador da escola de samba paulista.

O projeto gráfico simples acompanha o desenho sonoro que a cantora traçou para sua estréia: elementar e sutil, mas exuberante pela qualidade vocal e artística. A foto de capa do encarte traz uma Fabiana envolta por guias, colares e pulseiras coloridas. Protegida de corpo e alma para uma caminhada que, como já era sabido, não ficaria apenas neste trabalho.

Quando o céu clareou, ela brilhou de novo no cenário musical brasileiro. E muito mais protegida. Em seu segundo cd, tem Iemanjá, Nanã, Ogum, Oxum, Xangô e Ossaim. Pra que melhor? Sobre "Quando o Céu Clarear", comento brevemente em outro post. Até lá.

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