domingo, 5 de agosto de 2007

Caso Richarlyson: a intolerância continua


Com chamada de capa na Folha de S. Paulo deste domingo (5.8), Maurício Murad, doutor em sociologia do esporte, analisa a sentença do juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho, que julgou o processo de injúria por meio da mídia, impetrado por Richarlyson, jogador do São Paulo Futebol Clube, contra José Cyrillo Jr., diretor do Palmeiras. O cartola teria exposto publicamente a orientação sexual do jogador. Sobre este episódio eu já comentei aqui no blog.

No despacho, que orienta o arquivamento do processo, o juiz demonstra abertamente seu preconceito aos homossexuais e, em especial, àqueles que jogam futebol. Sugeriu que estes deveriam fazer uma federação à parte da "oficial", por considerar que futebol é um "esporte viril, varonil, não homossexual". E foi mais além na intolerância: "Cada um na sua área, cada macaco em seu galho, cada galo em seu terreno, cada rei em seu baralho". Pasmem! É de uma ignorância sem igual!

Os advogados pediram o afastamento do juiz do processo, que foi acatado pelo Tribunal de Justiça. Ele ainda terá de justificar, com plausibilidade, no Conselho Nacional de Justiça, o porquê de sua decisão.

O que surpreende neste caso é a inconsequência do juiz que, em vez de julgar o mérito em si, se houve ou não injúria, preferiu por julgar o jogador pela sua suposta homossexualidade. E a todos que forem gays. Um discurso homofóbico justamente vindo de uma instituição elementar da democracia que deveria proteger o cidadão contra a discriminação, ou seja, fazer valer seus direitos constitucionais de igualdade perante à lei.

Leia trecho de artigo do sociólogo acima citado:

"As regras do futebol supervisionadas pela International Board são 17. Nenhuma permite a discriminação por opção sexual. Aliás, uma das dimensões mais importantes do futebol, fator que ajuda a explicar sua planetária popularidade, é exatamente esta: qualquer pessoa pode jogar -e jogar bem- futebol, independentemente de classe, cor, tipo físico, opção sexual ou gênero. (...) O filósofo e escritor Camus, que foi goleiro, afirmou que o melhor que havia aprendido sobre ética e bons costumes devia ao futebol. Este, mais do que um esporte, é uma analogia da vida -e, assim, é um grande tema para as ciências humanas, inclusive para o direito. O futebol é uma via de acesso a temas de alto valor, como a inclusão social e a igualdade de oportunidades. Desconhecer isso é grave para uma ocupação tão relevante quanto a de um juiz; conhecer e não observar é muito pior e condenável. Rui Barbosa, expoente de nossa cultura jurídica, era um entusiasta do caráter educacional dos esportes. Considerava-os o lugar do mérito e dos ideais de igualdade. Por isso, os jovens precisavam de esporte, para que, no futuro, melhorassem a sociedade."

E por falar em igualdade, eu queria parabenizar as jogadoras da seleção feminina, que deram lição de competência à seleção masculina. Ganharam o ouro no PAN também por terem vencido nos gramados o preconceito e o machismo.

Os machões tiveram que engolir esta. E a seco.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Carta ao jornal A Tarde - Raimundo Varela

Foto: Daniel Pinto (www.samuelcelestino.com.br)


Na coluna Tempo Presente (A Tarde), 30 de julho, a jornalista Rita Conrado comentou sobre o projeto "Balanço Geral nos Bairros", do programa de Raimundo Varela na Tv Itapoan.

Por se tratar de um pré-candidato desde as últimas eleições municipais, o apresentador pode estar semeando ainda mais sua popularidade (e intenções de votos para ele) com este projeto que, embora seja de lazer, assistência social e cidadania para moradores humildes de bairros de Salvador, não deixa de ser uma pré-campanha à Prefeitura, mesmo que ele não admita isto.

Como observador atento, enviei uma carta ao jornal para corroborar a opinião da jornalista, que a publicou na edição de hoje, 1° de agosto, na seção "Espaço do Leitor", juntamente com a nota de esclarecimento do diretor da Tv Itapoan. Num dos pontos de sua carta, ele diz desconhecer "políticos e estudiosos de comunicação" que questionam o programa.

É incontestável o carisma de Raimundo Varela, que muitos outros apresentadores tentaram (ou tentam) imitar, mas que são uns arremedos. Sou telespectador eventual de seu programa e admiro a sua longevidade na televisão como um comunicador polêmico, embora, algumas vezes, derrape um pouco nos comentários, chegando até ser preconceituoso e deselegante.

Varela não está desrespeitando a lei eleitoral porque ainda não está registrado como candidato. E nem fala em seu programa que o será. Mas os ataques à administração de João Henrique e a sua filiação e/ou aproximação a partidos que se aninham na Igreja Universal do Reino de Deus, ligada por seus pastores a gestores da Tv Itapoan, já dão mostras de que ele, é sim, o candidato preferido da igreja.

Se não é crime eleitoral (espero que ele se afaste da bancada do Balanço Geral, caso seja efetivada sua candidatura), é falta de ética para quem tanto preza e defende isto em seu programa.

Eis a minha carta:

Varela nos bairros

O projeto Balanço Geral nos Bairros não só causa estranheza e desconfiança em políticos e estudiosos de comunicação, mas em todos os cidadãos conscientes, telespectadores inteligentes e observadores atentos às articulações partidárias e midiáticas de Raimundo Varela e da Tv Itapoan. O programa já é uma escola de fazer candidatos à Prefeitura e à Câmara municipais, leiam-se Fernando José e Guilherme Santos, que estava sumido e agora brotou do nada. Se se cumprir a tradição, teremos outra dobradinha saída da Rua Ferreira Santos para a Praça Municipal. Parodiando o próprio clichê do programa, eu ironizo: ‘Me deixe viu, Varela!’”

Marielson Carvalho, Salvador